A Região da Amazônia Legal possui uma imensa rede fluvial, dando vida a uma fauna riquíssima, alimentando hidrelétricas e abastecendo diversas cidades com água potável. No entanto, apresenta graves problemas relacionados ao saneamento básico, resultando em impactos ao meio ambiente e à saúde pública. Em comunidades rurais ribeirinhas, a distribuição dispersa das populações inviabiliza a implantação de sistemas centralizados de coleta e tratamento de esgoto.Quase sempre os ribeirinhos desconhecem as consequências decorrentes da contaminação pelas águas, bem como as múltiplas fontes de contaminação, sejam elas oriundas de terceiros ou ligadas aos próprios hábitos dos ribeirinhos. Neste contexto, muitas populações ribeirinhas utilizam banheiros construídos às margens ou sobre os rios, cavando buracos para servir como sanitário e construindo espaços com palha para tomar banho. Com essa modalidade comum de construção, fezes e urina são lançadas diretamente no rio ou sobre o solo, atingindo as águas superficiais conforme são carreadas pelas águas da chuva ou pela elevação do nível das águas devido à influência do ciclo das marés.Esse sistema é, também, uma fonte de contaminação para os animais domésticos, que circulam livremente embaixo dos banheiros em busca de alimento. Em muitos casos, as fezes humanas servem de alimento para suínos e aves criados no quintal das casas para o consumo de subsistência. Grande parte dos agentes patogênicos tem, no trato intestinal humano, as condições ótimas para o seu crescimento e reprodução. Assim, instalações sanitárias deficientes para o adequado destino dos dejetos aumentam a transmissão de doenças infecciosas e parasitárias.Com o objetivo de enfrentar esses problemas, foi idealizado o Banheiro Ecológico Ribeirinho, uma tecnologia de saneamento básico descentralizado, promissora e adaptada às condições das áreas sujeitas a inundações. E principalmente, para ajudar as populações ribeirinhas, indígenas, quilombolas e tradicionais da Amazônia que sofrem com a dificuldade de acesso a água potável e saneamento.Implantar Banheiros Ecológicos é importante não só para o controle da qualidade da água dos rios amazônicos, mas também para a preservação da vida de diversas espécies de peixes, bem como na manutenção do equilíbrio ambiental de vários ecossistemas. Esse projeto, além de ser prático, traz resultados imediatos, pois combate a contaminação de rios e lençóis freáticos, onde moradores com residências construídas às margens dos rios jogam seus esgotos in natura, comprometendo o sistema de oxigenação das águas, matando algumas espécies endêmicas, inclusive provocando doenças ao ser humano, tornando a situação um perigo para toda a comunidade.A ideia embrionária do Banheiro Ecológico Ribeirinho é isolar os dejetos humanos em recipiente impermeável, bem como assegurar que não haja extravasamentos do conteúdo para as águas da inundação pelas marés. Em consequência, há a possibilidade de uma ação onde os excrementos humanos deixam de ser fontes de contaminação e passam a ser tratados como recursos econômicos e fonte de nutrientes a serem devolvidos ao solo, após passar por processos de sanitização via compostagem.No Banheiro Ecológico, o recipiente isolante é uma bombona plástica com capacidade de armazenamento de 200 litros. A bombona é instalada acima do solo, sobre uma estrutura de madeira, e fixada por hastes de modo que o movimento das águas não cause o tombamento e o extravasamento dos dejetos. A elevação da bombona em relação ao solo tem como objetivo facilitar a sua remoção, na época da substituição, e conferir maior estabilidade à estrutura, reduzindo os riscos de tombamento devido ao movimento das águas das marés. Esse banheiro tem um sistema seco, portanto, não utiliza água para diluição dos dejetos, conservando esse importante recurso, cada vez mais escasso, mesmo nas condições amazônicas.Integrado à tecnologia das cisternas, o Banheiro Ecológico é equipado com uma torneira para higienização das mãos. Da cisterna sai uma tubulação que chega até o banheiro, levando água até a torneira. A presença da torneira, e eventualmente de uma pia, é um elemento importante da tecnologia em questão, pois estimula o hábito de lavar as mãos após o uso do banheiro. Na mesma linha, o Banheiro Ecológico é equipado com tampa de vaso sanitário e agradavelmente decorado com peças do artesanato produzido pela própria comunidade.Todos esses elementos, que alteram drasticamente o ambiente interno da antiga “casinha”, estão destinados a fortalecer os valores associados à higiene pessoal e à autoestima da comunidade, assim como as transformações nas relações da comunidade com o ambiente natural. Ao mesmo tempo, essas modificações foram concebidas de modo a manter o máximo de similaridade com o design das “casinhas” (banheiros rurais tradicionais), respeitando os aspectos culturais da comunidade, como prega a filosofia do saneamento ecológico.Esse projeto está em planejamento, e só poderá ser colocado em prática havendo condições financeiras da ONG Estilo de Vida.